Depois de atingir o recorde histórico de 13,2 bilhões de toneladas de CO2 em 2022, as emissões da geração global de eletricidade devem permanecer no mesmo nível até 2025, e então começar a cair, projeta a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
Lançado nesta quarta (8/2), o relatório do mercado elétrico da agência indica que as renováveis deverão aumentar sua participação no mix global de geração de 29% em 2022 para 35% em 2025, com a queda da participação da geração a carvão e gás.
Como resultado, a intensidade de CO2 da geração global de energia continuará diminuindo nos próximos anos.
Em 2022, o crescimento das emissões ocorreu a uma taxa semelhante à média de 2016-2019.
Mas, segundo a IEA, o aumento de 1,3% no ano passado representa uma desaceleração significativa comparada com o aumento de 6% em 2021 — em outubro, a agência estava calculando um recuo de 0,5% nas emissões com queda na demanda.
No ano passado, a demanda por eletricidade desacelerou 2%, em meio ao crescimento econômico global mais lento e preços de energia mais altos como consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia e novas restrições de saúde pública, principalmente na China.
Para os próximos três anos, a expectativa é de uma crescimento médio de 3%, impulsionado pelos mercados emergentes na Ásia.
“As energias renováveis devem dominar o crescimento da oferta mundial de eletricidade nos próximos três anos, pois, juntamente com a energia nuclear, atendem à grande maioria do aumento da demanda global até 2025, tornando improváveis aumentos significativos nas emissões de carbono do setor de energia”, afirma o relatório.
Mais de 70% do aumento na demanda global de eletricidade nos próximos três anos deve vir da China, Índia e Sudeste Asiático, embora ainda existam incertezas sobre como a economia chinesa se comportará em relação às restrições da Covid.
A participação da China no consumo global de eletricidade pode alcançar novo recorde de um terço até 2025, ante um quarto em 2015.
Por fonte, a IEA aponta que a geração de energia a gás natural na União Europeia deve cair nos próximos anos, mas será parcialmente compensada pelo crescimento significativo no Oriente Médio.
Enquanto isso, os declínios esperados na geração a carvão na Europa e nas Américas provavelmente serão acompanhados por um aumento na região da Ásia-Pacífico, apesar dos avanços em projetos nucleares e reativação de usinas em alguns países, como o Japão.
No Brasil, a demanda perspectiva é de um crescimento na demanda por eletricidade de cerca de 2% ao ano no período 2023-2025, ante 0,3% em 2022.
A geração hidrelétrica se recuperou em 2022 com um aumento anual de cerca de 17% após a seca mais severa do país em 90 anos e levou a uma diminuição na intensidade de emissão do sistema de energia de 135 gCO2/kWh em 2021 para 80 gCO2/kWh em 2022.
Até 2025, a intensidade pode chegar a 30 gCO2/kWh, com avanço da geração renovável.
A projeção do relatório é que a participação da geração hidrelétrica suba de 55% para 63% entre 2021 e 2025, eólica de 11% para 17% e solar fotovoltaica de 3% para 11 %.
Países ricos estão investindo e laçando subsídios para expandir o uso de eletricidade como substituta de combustíveis fósseis em setores como como transporte, aquecimento e indústria.
“A crescente demanda mundial por eletricidade deve acelerar, adicionando mais do que o dobro do consumo atual de eletricidade do Japão nos próximos três anos”, comenta Fatih Birol, diretor executivo da IEA.
Ele acredita que o ritmo de adições renováveis e nucleares é suficiente para atender a “quase todo esse apetite adicional”, sugerindo a proximidade de um ponto de inflexão para as emissões do setor de energia.
“Os governos agora precisam permitir que as fontes de baixas emissões cresçam ainda mais rapidamente e reduzam as emissões para que o mundo possa garantir o fornecimento seguro de eletricidade enquanto atinge as metas climáticas”.
A análise também observa que a demanda e o fornecimento de eletricidade em todo o mundo estão se tornando cada vez mais dependentes do clima.
Na Europa, a intensidade de CO2 da matriz aumentou como resultado do maior uso de carvão e gás em meio a quedas acentuadas na produção de energia hidrelétrica, devido à seca.
Enquanto ondas de calor na Ásia levaram ao maior pico de demanda de energia da Índia e regiões da China aumentaram o consumo de eletricidade para ar-condicionado, ao mesmo tempo em que a geração hidrelétrica era afetada pela seca.
Nos Estados Unidos, fortes tempestades de inverno em dezembro provocaram grandes interrupções de energia.
“Isso destaca a necessidade de descarbonização mais rápida e implantação acelerada de tecnologias de energia limpa”, diz o relatório.
No entanto, à medida que a transição para energia limpa ganha ritmo, o impacto dos eventos climáticos na demanda de eletricidade tende a se intensificar, já que que a parcela de renováveis dependentes do clima continuará a crescer no mix de geração.
“Nesse mundo, será crucial aumentar a flexibilidade dos sistemas de energia, garantindo a segurança do fornecimento e a resiliência das redes”, defende.
Globalmente, os preços da eletricidade permanecem elevados em muitas regiões, liderados pelo alto custo das commodities energéticas.
Embora os aumentos de custo tenham sido mais moderados em países com tarifas reguladas e acordos de fornecimento de combustível de longo prazo (GNL indexado ao petróleo, contratos de longo prazo ou contratos de fornecimento de combustível), as regiões dependentes de mercados de curto prazo para aquisição de combustível foram severamente afetadas.
“Se os preços das commodities energéticas permanecerem elevados, a aquisição de combustível continuará a ser um problema sério para as economias emergentes e em desenvolvimento”, alerta o relatório.
O Banco Mundial calcula que 733 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade e 2,4 bilhões ainda cozinham usando combustíveis prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
No ritmo atual de progresso, 670 milhões de pessoas permanecerão sem eletricidade até 2030.
A guerra Rússia-Ucrânia está piorando o acesso a energia. Segundo o levantamento, quase 90 milhões de pessoas na Ásia e na África que anteriormente tinham acesso a eletricidade não conseguem mais pagar por ela.
Fonte: epbr