Com o replecionamento e aproximadamente 75% dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) cheios, acrescido ainda da nova oferta de geração, a consultoria PSR enxerga uma projeção de PLD baixo para o Sudeste até 2023, o que já vem sendo observado nos últimos dois meses.
“A previsão é de R$ 62/MWh para 2022, com variação de R$ 6 para cima ou para baixo e R$ 72/MWh para 2023 com volatilidade maior devido à incerteza do próximo período úmido”, definiu o consultor de Preços e Tarifas, Mateus Cavalieri, durante apresentação nessa terça-feira, 19 de abril, no Workshop PSR/CanalEnergia.
Em termos de GSF, apesar das boas condições hidrológicas, o patamar deve ser inferior a 1 em função da inflexibilidade operativa das renováveis e de algumas térmicas, chegando a momentos com inflexibilidades de 50% da demanda, tendo pouco espaço para a geração hidráulica.
Ao conjugar esse fator com a visão de balanço entre oferta e demanda o especialista observa uma sobreoferta física de aproximadamente 25% e 23% nos próximos dois anos, entendendo melhor que o GSF está abaixo de 1 por não conseguir gerar com as hidrelétricas por falta de espaço ao atendimento da demanda.
Juntando PLD e GSF o cenário vislumbrado é de bandeira verde para 2022 e 2023 e o consumidor percebendo uma melhoria nos valores pelo não acionamento das bandeiras, visto as tarifas reguladas para 2022 tenderem a sofrer ainda com os efeitos do despacho térmico do ano passado e pela questão inflacionária.
“Apesar da projeção de 13,5% de aumento tarifário para fins de IRT nominal a percepção do consumidor deve ser de queda. Quando passamos da bandeira escassez hídrica para a verde o reajuste percebido é próximo a uma redução de 7,5%, o que seria observado também em proporção menor nos casos de bandeira amarela, com um aumento sendo só percebido em caso de bandeira vermelha”, explicou Cavalieri.
Sobre essas previsões o consultor ressaltou haver ainda incertezas sobre quem irá entrar de fato no procedimento competitivo simplificado deste ano, com a segunda tranche do empréstimo setorial devendo cobrir os custos recorrentes da sobrecontratação, além da definição do bônus da outorga da Eletrobras, se vai entrar nesse ano ou no próximo.
Quanto ao mercado livre os impactos em nível e perfil de preços no longo prazo, até 2050, deve vir primeiro com a redução dos custos para depois, com a diminuição da sobreoferta e entrada de novas térmicas a gás natural 100% flexíveis, voltar a patamares conhecidos no setor, na casa dos R$ 170/MWh. Por fim as variações do preço spot no mesmo dia seria em torno de R$ 100/MWh, com a maior inserção da fonte solar.
Guerra e preço do gás
Por sua vez a palestra do consultor de Mercados da PSR, Rodrigo Novaes, centrou-se nos impactos e perspectivas de preço do gás natural e outros combustíveis após a invasão russa à Ucrânia, destacando que o fornecimento global do insumo seguirá a preços altos até 2024 e podendo trazer um impacto considerável no CVU das térmicas brasileiras.
O consultor de Preços e Tarifas, Celso Dall’Orto, colaborou no debate trazendo dados de que 30% do total da capacidade térmica no Brasil tem reajuste de CVU indexado aos combustíveis internacionais. “Essa parcela que deve causar uma vulnerabilidade imediata de preços e aumentar com o tempo, além do custo do óleo diesel das usinas ainda em operação afetar também a CDE”, ressaltou o executivo.
Já Novaes explorou pontos da geopolítica energética atual, como a dependência da União Europeia de 47% do carvão, 46% do gás e 27% do petróleo russo, com a Alemanha importando 60% do gás natural. “Essas exportações energéticas são importante fontes de renda para a Rússia, que embolsou US$ 2 trilhões na última década e atualmente mais de US$ 1 bilhão por dia”, aponta.
Ele também mostrou como essa dependência energética motivou respostas rápidas do continente europeu, começando pelo gás e passando depois para o carvão, e possivelmente podendo chegar ao petróleo. “90% do gás consumido na União Europeia é importado e 40% vem da estatal russa Gazprom, única empresa que detém tanto influência sobre o balanço energético europeu”, salienta.
As sanções impostas após a invasão focam na redução de 2/3 das importações do gás russo ainda em 2022 e eliminá-las até 2030, o que é factível no papel mas complexo na realidade por diversas razões. Entre elas a Europa disputar o suprimento de GNL com os países asiáticos, o que implicará em altos preços a serem pagos, além do volume significativo de contratos com penalidades altas associadas, o que não tem um caminho claro na Europa de como será feito.
Quanto ao carvão os valores já vinham subiam desde o segundo semestre de 2021 e há várias limitações na Colômbia, Indonésia e China que prejudicaram tanto a mineração quanto transporte do combustível.
Novaes conta que com o embargo ao carvão russo será necessário a compra do insumo de outros fornecedores, enquanto os mercados vendedores terão que comprar mais carvão russo para dar conta das exportações. No entanto a Rússia enfrentará problemas logísticos e ficará sem alternativas para escoar o carvão, visto não ter uma infraestrutura de trens para o escoamento a China e o transporte marítimo ser muito caro.
Já no petróleo há crescente pressão política para o embargo, que depende aprovação unânime, o que a Hungria já demonstrou ser contra. O fato é que haverá impactos em todo mercado de trading das commodities.
“Há muitas incertezas nesse cenário, mas destaco uma possível pressão russa no gás fornecido a Europa entre abril a outubro desse ano, período de reenchimento dos reservatórios do continente para enfrentar o inverno”, comentou Rodrigo.
O especialista referiu ainda que o velho continente quer uma saída gradual da dependência e a Rússia vai se ver sem um mercado de destino para o seu gás, com problemas no suprimento que podem acarretar em questões energéticas para as indústrias, provocando uma desaceleração da economia em todo mundo.
Fonte: Canal Energia