SÃO PAULO (Reuters) – Projeções do governo do final de março que apontam redução de quase 1% na carga de energia do Brasil em 2020 como efeito do coronavírus estão defasadas e provavelmente passarão em breve por uma revisão extraordinária, disse à Reuters o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em entrevista nesta sexta-feira, o chefe do órgão que comanda o acionamento de usinas e linhas de energia para atender à demanda no Brasil, Luiz Eduardo Barata, contou também que o ONS tem adotado medidas de precaução que podem incluir até o confinamento de profissionais chave para a operação da rede elétrica caso a pandemia se agrave.
O próprio ONS, a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgaram em 27 de março estimativa de recuo de 0,9% na carga de energia em 2020, ante projeção anterior de avanço de 4,2%.
Mas esses números, que são revistos a cada quatro meses e influenciam a operação do sistema e até os preços no chamado mercado livre de eletricidade, já demandam ajustes imediatos, disse Barata.
“Nossa sensibilidade é de que essa carga estará bem menor ainda em 2020 e temos que conversar com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para verificar se podemos fazer uma revisão extraordinária, levando em conta as novas previsões para o PIB”, afirmou.
Em caso de aval do regulador para a revisão, ela teria impactos nos preços e no sistema elétrico já em junho, enquanto as estimativas anteriores passariam a ser consideradas em maio.
A projeção atual teve como base um PIB estável em 2020. Mas estimativas de mercado compiladas pelo boletim Focus do Banco Central já apontam para recuo de 1,96% na economia, enquanto o Banco Mundial projeta retração de 5% no Brasil neste ano.
O ONS tem registrado até o momento uma queda de cerca de 20% na demanda por eletricidade no país na comparação com a primeira metade de março, antes da adoção em diversos Estados de medidas mais severas de isolamento social para conter a propagação do coronavírus.
O ONS, que possui quase 800 funcionários e centros de operação em quatro Estados, está com cerca de 85% da força de trabalho em regime de home office, incluindo o próprio diretor-geral.
Mas Barata disse que um time de aproximadamente 140 profissionais responsáveis pelas salas de controle do sistema elétrico segue nos escritórios sob uma série de cuidados especiais.
Essas equipes receberam kits de proteção com máscaras, óculos e luvas e passarão por testes de coronavírus a cada período de entre 7 e 10 dias.
O ONS também aumentou os cuidados com a limpeza das salas onde eles trabalham e ampliou os turnos, mas novas medidas podem ser tomadas caso a epidemia se agrave no Brasil.
“No caso de realmente haver uma exacerbação da crise, manteremos nossos operadores em um ambiente separado… em países onde a crise se agravou, como a Itália, eles tiravam esses operadores e mantinham confinados em hotéis ou ambientes preparados, eles nem iam para casa. Nós felizmente ainda não chegamos a isso”, disse Barata.
Ele explicou que o ONS preparou um plano de contingência em quatro fases, acionadas de acordo com a gravidade da pandemia.
“Nós estamos hoje na segunda etapa. (O confinamento de operadores) seria apenas na última etapa, a quarta”.
Em paralelo, o ONS também mantém uma equipe adicional de profissionais que poderiam assumir funções de operadores em caso de contaminação das equipes.
“É dificílimo (substituir esses profissionais) porque são pessoas muito específicas, que foram treinadas ao longo de muito tempo, daí nossa preocupação”, acrescentou Barata.
Em Nova York, considerado hoje o epicentro da epidemia de coronavírus nos Estados Unidos, o órgão responsável pela operação do sistema elétrico já colocou alguns profissionais sob confinamento para não correr riscos na operação da rede.
Fonte: Reuters
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