Imprescindíveis para garantir atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN) durante a crise de 2021, as usinas térmicas cobraram um alto preço, que pesará no bolso dos consumidores por alguns anos, embora tenham se provado importantes para assegurar o suprimento de energia. Por isso, a perspectiva de contratação de mais 8 gigawatts (GW) termelétricos e a possibilidade de recontratação de usinas ineficientes a óleo diesel e óleo combustível preocupam agentes do setor elétrico.
Ao longo de 2021, por conta do baixo nível dos reservatórios, todo o parque térmico nacional foi solicitado a gerar energia. A operação dessas usinas foi responsável por agregar 20 pontos porcentuais nos reservatórios das hidrelétricas, segundo o presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri. Sem essa ajuda, disse, o volume de energia armazenada nas hidrelétricas do SIN teria chegado a 5% no ano passado, tornando a operação do sistema impossível. O racionamento seria inevitável.
Por outro lado, essa produção termelétrica por segurança energética custou R$ 24 bilhões, somente entre outubro de 2020 a novembro de 2021, montante que está sendo repassado para as tarifas – parte no atual ciclo tarifário, parte nos ciclos que virão, já que um empréstimo financeiro ao setor resultará em um pagamento diferido desse custo, em prestações. “Com esse valor, acredito que a Aneel terá que divulgar índices de reajustes anuais na casa de dois dígitos”, comentou, durante evento realizado nesta segunda-feira.
O diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, avaliou que os comandos dados pelos órgãos de governo para enfrentamento da crise, como o acionamento das térmicas mais caras, foi correto e gerou um custo menor do que seria o do racionamento, mas salientou que “cabe agora ao planejamento tomar as medidas para que não volte a acontecer” a mesma coisa, tão elevado custo.
Altieri defende que o setor precisa aproveitar a aproximação do fim dos contratos de termelétricas caras a óleo diesel e combustível, até 2026, para renovar o parque térmico e contratar usinas mais eficientes. “Fala-se no Legislativo em obrigação de recontratar essas usinas, mas seria um custo muito alto para consumidor”, disse, rechaçando declarações de que essas usinas possuem custo fixo baixo e só operam em momentos pontuais. “O legado comercial ficará por de muito tempo”, completou.
Para ele, é preciso atuar com foco na redução do custo de geração, o que passa pela diversificação da matriz e pelo desenvolvimento do mercado de capacidade, aproveitando a “janela de oportunidade contratual”.
O presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Rodrigo Ferreira, também mostrou preocupação com a possibilidade de renovação do prazo de contratação dessas usinas e com o modelo de contratação os 8 GW de térmicas inflexíveis, conforme previsto na lei que permitiu a privatização da Eletrobras.
O diretor de Estudos de Energia Elétrica da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Erik Rego, explicou que a instituição está trabalhando para identificar a necessidade de contratação de energia de reserva, de maneira a acomodar essa contratação definida em lei, evitando, assim, que essa energia seja colocada no sistema por meio de cotas. “A cotização só aumenta os legados”, disse.
Fonte: Agência Estado
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