O Brasil terá de alcançar emissões negativas de CO2 entre 2035 e 2040, para atingir a neutralidade na geração líquida de gases de efeito estufa até 2050. Isso será possível quando a diferença entre o valor emitido e o capturado da atmosfera ficar em torno de 500 milhões de toneladas, aponta estudo sobre transição energética produzido em parceria pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Empresa de Pesquisa Energética e Centro de Economia Energética e Ambiental da Coppe/UFRJ.
A análise mostra os desafios que o país terá que enfrentar no caminho para a descarbonização da economia, a partir de três cenários distintos de transição energética: “Transição Brasil”, “Transição Alternativa” e “Transição Global”.
Todos eles indicam crescimento na demanda por energia, a necessidade de atualizar e criar marcos regulatórios para a transição energética e o fato de novas tecnologias e infraestrutura não terem atingido ainda o grau de desenvolvimento necessário para terem escala e competitividade.
O documento alerta que se o Brasil não conseguir eliminar o desmatamento ilegal até 2028, a meta de zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050 século vai se tornar irrealista, mesmo com a aplicação de tecnologias que hoje ainda não estão maduras. O custo de compensação para cumprir o compromisso assumido no Acordo de Paris pode chegar a US$ 3,4 trilhões, considerando um cenário de preços de carbono mais elevados no longo prazo.
Para alcançar os resultados desejados, o setor energético precisará compensar parcialmente as emissões resultantes do desmatamento e do uso da terra que não forem reduzidas. Deverá lidar, além disso, com emissões remanescentes de setores de difícil abatimento, como transporte de carga a longa distância e processos industriais carbono-intensivos. O uso de energia no Brasil emite apenas 18% do total contabilizado no país, sendo que os setores de transportes, industrial e residencial respondem por mais de 3/4 desta parcela.
Em todos os cenários de análise, projeta-se a expansão da capacidade de geração de energia elétrica, com predominância das fontes eólica e solar e redução da participação relativa da hidroeletricidade no parque gerador brasileiro para algo entre 30% e 55%. A participação das renováveis deve ultrapassar 90% do mix elétrico.
O crescimento da capacidade instalada de geração em pouco menos de 30 anos ficará entre 181GW e 221 GW, o que vai exigir a expansão das linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional. O estudo considera também um aumento da eficiência nas novas instalações de transmissão e de distribuição de eletricidade, com redução das perdas no transporte.
Na área de combustíveis, é esperada redução no uso doméstico de petróleo e gás natural, que perderão espaço na matriz e responderão por entre 10% e 25% do atendimento energético. É esperada forte retração de derivados de petróleo, devido à substituição por biocombustíveis e à eletrificação dos transportes.
A produção de petróleo deve ser mantida, consolidando o país como um exportador relevante, em razão da menor intensidade de carbono do produto brasileiro. De acordo com o documento, o petróleo do Brasil será importante para garantir a segurança energética de muitos países, na transição para uma economia mais limpa.
Para o gás natural é esperado aumento da produção, que será absorvida pelo mercado interno, com importação marginal do insumo.
Na área de biocombustíveis, além do etanol e biodiesel, ganham destaque na substituição dos fósseis produtos avançados como o diesel verde, o bioquerosene de aviação, a gasolina verde e os biocombustíveis para uso marítimo.
Há espaço ainda para o hidrogênio, cuja produção pode alcançar entre 21 milhões e 32 milhões de toneladas em 2050. Para o hidrogênio verde, obtido pela eletrólise com eletricidade de fontes renováveis, calcula-se um potencial da ordem de 4 milhões de toneladas para exportação. Já para o biometano, que pode usar a infraestrutura do gás natural, a demanda prevista ficará entre 15 milhões e 18 milhões m3/dia em 2050.
Os três cenários de descarbonização apontados incorporam mudanças estruturais na oferta e na demanda de energia, agropecuária e floresta, para atingir a neutralidade. Para os cenários TB e TA, seriam evitadas aproximadamente 30 bilhões tCO2eq (toneladas de gás carbônico equivalente) no horizonte para emissões líquidas zero no fim do período de pouco menos de 30 anos. No TG, o esforço de mitigação é de cerca de 40 bilhões tCO2eq no período.
Fonte: Canal Energia
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