As hidrelétricas brasileiras registram em 2023 volume recorde de água vertida, ou seja, eliminada pelas barragens sem ser usada na geração de energia, apontam dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Neste ano, até 20 de junho, foi vertido pelas hidrelétricas de todo o país o equivalente a 10.842 MWmed (megawatts-médios). Essa energia seria suficiente para atender a cerca de 90% da demanda dos consumidores do Nordeste, segundo o ONS.
É o maior valor da série histórica do ONS, que começa em 2000. O número equivale a quatro vezes a quantidade de água vertida em todo o ano de 2022 (2.594 MWmed).
O cenário é reflexo do excesso de chuvas dos últimos meses, que elevou fortemente o nível dos reservatórios. Ao final de junho, os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, onde fica a maior capacidade de geração do país, registravam armazenamento médio de 86%, o melhor índice desde 2011.
As hidrelétricas vertem água quando os reservatórios estão cheios, o que pode acontecer mesmo que uma usina não esteja gerando na capacidade máxima. Isso se deve ao fato de a produção de energia variar de acordo com a demanda dos consumidores, que flutua ao longo do dia.
A quantidade de água vertida neste ano só não foi maior porque o país exportou energia para Argentina e Uruguai.
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), foram vendidos aos dois países vizinhos 4.924,9 MWmed, de janeiro a maio, energia suficiente para abastecer o Distrito Federal por seis meses ou o Tocantins por um ano. Essa exportação gerou uma receita de cerca de R$ 600 milhões.
Essa melhora no setor elétrico brasileiro ocorre apenas dois anos depois da forte crise provocada pela escassez de chuva e que trouxe de volta o fantasma do risco de um novo racionamento de energia no país.
Ao final de julho de 2021, os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste tinham armazenamento médio de 26%. Naquele mês, o Brasil registraria recorde de geração de energia por termelétricas devido à necessidade de poupar água.
No mês seguinte, em agosto de 2021, o governo anunciaria uma nova bandeira tarifária, batizada de escassez hídrica, que elevou a cobrança extra nas contas de luz. A arrecadação a mais serviu para fazer frente ao aumento de custos do setor devido à falta de chuvas.
Em 2023 o cenário é completamente diferente. Dados do ONS mostram que a geração hidrelétrica bateu recorde histórico em março, com 58.886 MWmed. Já a geração térmica tem se mantido em patamares mais baixos: em fevereiro, foi de 3.639 MWmed, a menor desde fevereiro de 2012.
A TV Globo questionou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre os efeitos nas contas de luz da melhora na situação das hidrelétricas.
Em nota, a agência informou que “em razão do aumento da geração renovável e menor utilização das térmicas, as bandeiras tarifárias estão verdes desde abril de 2022” e devem permanecer “assim até o fim de 2023.”
A bandeira verde significa que não há cobrança extra nas contas de luz.
Ainda de acordo com a Aneel, o fim da cobrança da bandeira escassez hídrica, e a mudança para a bandeira verde, significou uma redução média de 20% nas tarifas de energia no país.
“Portanto, mantido o cenário atual, a bandeira permanecerá verde, o que evita aumento das tarifas aos consumidores”, completou a agência.
Já o Ministério de Minas e Energia informou que “entende que a redução estrutural das tarifas de energia elétrica passa por políticas públicas para correção de diversas distorções incluídas no setor elétrico ao longo dos últimos anos.”
O ministério disse ainda que “atua para implementar essas políticas públicas, de modo a proteger a população mais carente, a mais prejudicada pelos diversos subsídios e custos imputados nos últimos anos, e propor correções às distorções incluídas nas tarifas nos últimos anos.”
Fonte: G1
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