A volatilidade do dólar, as termoelétricas e o armazenamento de energia

ONS divulga os resultados do estudo do planejamento da operação para o setor elétrico até 2029
10 de janeiro de 2025
Mostrar tudo

cotação do dólar impõe custos mais elevados às usinas termoelétricas movidas a óleo e gás, pois esses combustíveis, mesmo quando produzidos aqui, seguem cotações internacionais. Além do preço internacional, a cotação do dólar também impacta as tarifas e alimenta a inflação.

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), em nota técnica, aponta para o aumento na frequência e na intensidade de secas e estiagens desde os anos 1990, afetando desde o Sul do Brasil até a Amazônia [O Brasil está secando]. É um cenário que leva a um acionamento mais frequente e prolongado das usinas termelétricas, a fonte de geração de energia mais onerosa no Brasil.

O Sistema Interligado Nacional — SIN

O SIN consiste em uma infraestrutura que interliga diversas usinas de produção de energia elétrica, assim como plantas eólicas e solares, das mais diversas regiões. Ele possibilita a transferência de excedentes de energia de uma região para outra onde a produção seja deficitária.

Isso é feito dinamicamente, obedecendo a um planejamento prévio e também considerando situações contingenciais. Essas decisões avaliam fatores como disponibilidade hídrica de uma região, previsões climáticas, demanda e capacidade de produção. As situações contingenciais podem, por exemplo, contornar problemas em linhas de transmissão devido a situações climáticas extremas.

A operação do SIN resulta em economia por haver uma tendência de priorizar fontes menos custosas, e também a segurança de abastecimento. Quando uma região enfrenta alguma dificuldade de geração, é possível transferir energia elétrica a partir de regiões que tenham superavit. Se isso não for possível, utilizam-se termoelétricas já previamente contratadas.

Isso faz com que, a partir do SIN, um planejamento estratégico possa ser estabelecido para o enfrentamento de situações climáticas adversas, como a redução de água em usinas hidroelétricas.

Por exemplo, a região central do Brasil tem enfrentado uma tendência de redução da disponibilidade de água, com secas cada vez mais intensas e prolongadas. Nesse caso, usinas hidroelétricas podem ser utilizadas para armazenar água para o período em que a falta d’água se acentue. Isso evitaria um maior acionamento de termoelétricas.

No período em que algumas hidroelétricas estivessem armazenando água em seus reservatórios, a demanda poderia ser suprida por fontes eólicas ou solares, situação essa possibilitada pela infraestrutura do SIN. Na prática, algumas hidroelétricas seriam utilizadas como power banks do sistema.

Grid-scale storage

Uma opção que tem crescido é armazenar grandes quantidades de energia elétrica em grupos de baterias integrados à rede de distribuição (grid-scale storage). São grandes sistemas que buscam aproveitar a maior geração eólica e solar, em determinados períodos, armazenando energia elétrica para horários ou períodos em que a geração renovável não esteja tão disponível.

A solução tradicional para esses momentos é acionar usinas termoelétricas. Entretanto, com a necessidade de redução de emissões de gases de efeito estufa e custos que dependem da cotação internacional de combustíveis fósseis e da volatilidade do dólar, essa opção acaba sendo pouco atraente.

O armazenamento em grupos de baterias integrados aos sistemas de distribuição tem crescido internacionalmente, motivado pela construção de grandes plantas de geração eólica e solar. O uso desses sistemas é impulsionado também pelo aumento de capacidade chinesa de produção de baterias. Atualmente, a oferta tem superado a demanda, levando a uma redução de preços. Também concorre para isso a utilização de novas tecnologias, como baterias de íons de sódio.

Em paralelo a uma maior produção e menor custo de armazenamento, ocorre um aumento do consumo de energia elétrica, por diferentes motivos. No Brasil, as condições climáticas com temperaturas muito elevadas provocam um uso intensivo de condicionadores de ar e sistemas de ventilação.

No inverno, o consumo de energia tende a diminuir no Brasil. Em 2024, entretanto, o menor consumo de energia durante o inverno foi superior a todos os picos de consumo de anos anteriores devido a uma grande elevação das temperaturas.

Em outros países, o aumento de consumo é associado ao uso de sistemas de inteligência artificial que demandam grande capacidade de processamento e usam intensivamente energia elétrica.

Dólar, óleo e gás

As termoelétricas representam a opção mais cara de geração e seu uso, quando intensificado, acaba levando à aplicação de bandeiras tarifárias que impõem um sobrepreço aos consumidores. A elevação da tarifa de energia elétrica gera uma inflação de custo que impacta todos os setores da economia. É uma fonte de energia que sofre diretamente com o preço internacional do óleo e do gás e também sofre o impacto da cotação do dólar.

O Brasil tem se notabilizado pela diversidade de opções para geração elétrica e essa capacidade tem sido utilizada de maneira a preservar o uso de fontes menos onerosas. Mesmo assim, nem todos seguem esse caminho. Recentemente, senadores aprovaram a regulamentação das eólicas offshore, mas colocaram “jabutis” no texto para incentivar térmicas movidas a combustíveis fósseis [Jabutis e a estranha transição energética do Senado].

A evolução tecnológica vai nos oferecendo alternativas que podem se traduzir em benefício público, como a diminuição de tarifas e a redução de emissões de poluentes e gases de efeito estufa. É só uma questão de bom senso e espírito público.

Fonte: CNN Brasil

Os comentários estão encerrados.

× Quer economizar?
//]]>