A energia gerada por sol ou vento é intermitente, ou seja, não pode ser armazenada em sua forma original.Mas isso está mudando: o crescimento das energias renováveis será amparado pelas tecnologias de armazenamento que já prometem ser a nova revolução no setor elétrico.
Com elas, é possível gerar energia em horários de baixa demanda (como na madrugada) para usá-la nos horários de ponta, quando o preço sobe.
O armazenamento de energia também é solução para sistemas isolados, sem conexão com linhas de transmissão e dependentes de geradores a diesel, mais caro e poluente.
Baterias de íons de lítio são a principal tecnologia empregada hoje para permitir que a energia possa ser estocada.
Segundo a consultoria Bloomberg New Energy Finance, os projetos estão em expansão por causa da queda nos preços das baterias de íons de lítio (80% desde 2010), impulsionada pelo aumento na produção de veículos elétricos.
Em um relatório de junho, a consultoria estima que US$ 548 bilhões serão investidos no setor até 2050.
A chegada do armazenamento barato em baterias vai ampliar a geração de renováveis, que tomarão parte significativa do mercado de carvão, gás e energia nuclear.
“É energia confiável a um custo menor. O Brasil, que gera energia cara em termelétricas para atender à demanda nos horários de pico, poderá economizar muito”, diz Carlos Augusto Brandão, presidente da Abaque (Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia).
O país já conta com os primeiros projetos, com R$ 405 milhões em investimentos. Um exemplo vem de Fernando de Noronha (PE), que recebeu um piloto desenvolvido pela Cepel, a concessionária de Pernambuco, e a fabricante de baterias japonesa NEC.
O conjunto de baterias de íons de lítio com 560 kilowatts de capacidade, acoplado a um sistema de placas fotovoltaicas, vai permitir o desligamento de geradores movidos a diesel que hoje abastecem o arquipélago.
O projeto foi aprovado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no programa de estímulo à pesquisa e desenvolvimento, com investimento de R$ 20 milhões. Esse programa do setor recebe 1% do que é faturado nas contas de energia. Na última edição, selecionou 29 projetos de armazenamento de energia —23 já em desenvolvimento.
Países como EUA, Japão e Reino Unido estão ampliando seus sistemas. A americana AES desenvolveu um armazenamento em baterias há dez anos, com experiências consolidadas nos EUA, Chile e Irlanda.
No Brasil, onde opera a subsidiária AES Tietê, o primeiro projeto começou a funcionar este ano em Bariri, a 330 quilômetros de São Paulo, na hidrelétrica que pertence à companhia. Inclui um sistema modular de armazenamento de energia de 161 kW, que pode ser expandido para 1 MW, com baterias de íons de lítio.
“Fizemos esse piloto para comprovar o potencial do armazenamento de energia para o setor elétrico brasileiro”, diz Rogério Jorge, diretor de relacionamento com clientes da AES Tietê.
Além de balancear a intermitência das fontes renováveis e prover energia para sistemas isolados, o armazenamento poderá aliviar as redes de transmissão e ser usado em projetos direcionados a clientes.
Segundo Jorge, o plano é oferecer a tecnologia como solução anti-apagão para empresas do comércio ou indústria que necessitam de segurança no fornecimento.
O Ministério de Minas e Energia estuda realizar este ano os primeiros leilões de energia envolvendo tecnologias de armazenamento. O objetivo é atender aos sistemas isolados de Roraima. O estado é abastecido com linhas de transmissão da Venezuela, que apresenta problemas.
O armazenamento pode gerar negócios para comercializadoras de energia que atuam no mercado livre.
A Electra Energy, de Curitiba, quer investir R$ 18 milhões nisso, e estuda duas possibilidades: a substituição de geradores a diesel por energia armazenada nos horários de maior demanda, e o armazenamento da energia gerada por eólicas na madrugada.
“O plano é suprir energia de sistemas de armazenamento diretamente aos nossos clientes”, diz Claudio Fabiano Alves, diretor-presidente da Electra.
A empresa quer usar, além de baterias, hidrelétricas reversíveis: nesse sistema, bombas e turbinas levam a água de um reservatório inferior, em períodos de baixa demanda, para um superior.
Quando a demanda aumenta, aciona-se o processo reverso: a água deixa o reservatório superior em direção ao inferior, movimentando as turbinas hidráulicas e gerando energia.
1- A energia é gerada por painéis solares fotovoltaicos ou turbinas eólicas
2- A energia segue para os controladores de carga, responsáveis por proteger as baterias de sobrecargas, o que poderia comprometer sua vida útil
3- Conjuntos de baterias armazenam a energia, que pode ser acionada nos períodos de maior demanda
4- Antes de chegar à rede elétrica, a energia passa pelo inversor, equipamento que converte de CC (corrente contínua) para CA (corrente alternada). Assim pode ser utilizada nos eletrodomésticos
Fonte: Folha de São Paulo
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