Retração no mercado brasileiro nos próximos dois meses parece ser fato consumado, mas maior preocupação está na extensão da incerteza quanto à retomada da atividade econômica no país
A semana é de divulgação da revisão quadrimestral de carga, some-se a isso a reunião da Programação Mensal de Operação para o mês de abril, quarentena imposta nas maiores cidades do país. Ao mesmo tempo temos o incremento no número de casos da covid-19 no Brasil. Como consequência o cenário de incerteza aumenta tanto quanto recuam as perspectivas de consumo de energia diante da nebulosidade que impede uma análise mais assertiva sobre o comportamento da economia e do consumo para os próximos meses.
Alexandre Viana, sócio e diretor da Thymos Energia, destaca que o momento era promissor para o país com uma série de investimentos chegando por aqui. Com esse cenário, disse ele, a atividade econômica esfria. E esfriando, continua, a queda no consumo é uma consequência direta e que deve levar à desaceleração no nível de investimentos. Até porque o setor elétrico nacional tem forte presença internacional, principalmente de organizações europeias e chinesas.
O executivo da Thymos destacou que a queda de demanda decorrente dos efeitos da pandemia foram vistos em outros países. Ao analisar dados de consumo oficiais de países europeus no dia 18 de março de 2020 comparado a 2019, a consultoria verificou quedas que variaram de um aumento na Alemanha de 0,5% a quedas de dois dígitos, sendo 20,4% na França e de 12,3% na Itália.
A consultoria traçou quatro cenários. Mas ressalta que até o final de abril é possível ter essa visão mais clara, depois disso, classificou ele, é “puro achismo, pois é impossível saber qual é o caminho que seguiremos nem quanto tempo a crise pode durar”. No melhor desses quatro cenários a carga cai 1,6% em 2020 ante 2019. Os índices são piores no cenário moderado, que por sua vez recuam mais ainda no pessimista e chegam ao catastrófico em queda de 14,3% no ano.
Projeções Thymos Energia para carga em 2020
Por aqui, informou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, dados preliminares apontam retração da carga desde a última terça-feira (17), quando foi instaurada a quarentena como medida oficial de contenção ao Covid-19. O destaque contudo, foi verificado na última segunda-feira, 23 de março. Nessa data, dia em que começaram a valer medidas mais rígidas nas duas maiores cidades do país, a carga média no horário das 9h, quando geralmente cresce a demanda por energia, foi de 61.999 MW médios, uma redução de 18,6% em relação ao mesmo horário da segunda-feira da semana passada. Já no horário das 14h, quando ocorrem os picos de consumo, a redução foi de 18,8% com carga de 67.164 MW médios.
Para a diretora executiva da consultoria Engenho, Leontina Pinto, a crise poderá afetar o consumo de energia de forma mais expressiva se durar mais do que dois meses. A depender do cenário, projeta ela, a queda da demanda tem potencial de alcançar a indústria que atua no mercado livre, mais especificamente os grandes consumidores de energia. Segundo sua estimativa é possível que o prolongamento da crise possa derrubar o consumo no ACL entre 40% a até 80% no pior dos cenários.
“Essa poderá ser uma crise que pode derrubar o PIB brasileiro mais do que no racionamento de energia”, definiu ela. “Temos conversado com grandes consumidores que não pararam sua linha de produção porque estão atendendo os pedidos que estão colocados. Mas empresas já me disseram que projetam parar daqui a dois meses se a situação não se reverter”, revelou ela.
Do outro lado, avalia que o crescimento da demanda residencial, naturalmente, aumentará com o trabalho em home office, mas não será suficiente para compensar o tombo das classes comercial, serviços e indústria tanto no ACR quanto no ACL. Se a crise continuar para além de maio chega à indústria sim e aí a retração pode ser pesada, podendo ficar na casa de 30% a 40%, liderado pela indústria eletrointensiva.
“Crise atual pode reduzir o PIB a um volume menor do que o visto no racionamento de energia no início dos anos 2000”. Leontina Pinto, da Engenho Consultoria
Na avaliação de Leonardo Salvi, diretor de Operações da Electra Energy, os efeitos da pandemia de coronavírus são realmente sentidos no mercado. Um exemplo são justamente os dados de redução da demanda. Contudo, lembra que antes mesmo de termos o primeiro paciente no Brasil com diagnóstico confirmado, algum impacto já era esperado em virtude da emergência sanitária que se instalou na China e na Europa. “Com a chegada do vírus ao Brasil e a necessidade de medidas mais restritivas à circulação de pessoas e, consequentemente, da atividade econômica, a redução de carga observada na última semana foi drástica”, pontuou.
Nesse cenário entende que o ONS deverá rever as projeções de carga com o intuito de adequá-las à nova realidade imposta pelas medidas de contenção adotadas. “Acreditamos que já na próxima reunião do PMO o ONS reduzirá a previsão de carga para abril de forma proporcional ao que se observou nesta última semana, da ordem de 10%, ou até mais”, acrescentou ele que estima para o PMO de maio – já considerando para o planejamento de médio prazo (2020 a 2024) a carga revista na primeira revisão quadrimestral – uma nova redução da carga, contudo, em percentuais inferiores àqueles aplicados até abril.
Fonte: Canal Energia
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3 Comentários
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