A partir da década de 1970, o crescimento populacional e a expansão da economia impulsionaram a demanda energética mundial. Em função da grande disponibilidade de água e das características de seus rios, a solução encontrada no Brasil para o atendimento à demanda priorizou a implantação de usinas hidrelétricas, que chegaram a representar 95% da nossa matriz elétrica.
Desde então, o encarecimento dos combustíveis fósseis e a crescente preocupação com as mudanças climáticas vêm levando a um incentivo mundial por fontes renováveis.
A partir de grandes avanços tecnológicos, redução de custos e potencial disponível, o país diversificou as fontes de produção de energia com biomassa de cana, eólica e solar.
Um dos maiores obstáculos à inserção dessas fontes renováveis é o seu caráter sazonal, marcante no caso da biomassa, e intermitente, peculiar a eólicas e solares.
No Brasil, felizmente, as fontes são complementares: no período de estiagem, com menor produção hidrelétrica, venta mais no Nordeste, incrementando a produção eólica. Essa, por sua vez, tende a ser mais noturna, o que complementa a produção solar.
A combinação de fontes é ainda mais bem aproveitada porque temos uma rede elétrica única e um ambiente regulatório efetivo para a expansão dessa rede via os leilões de novas linhas de transmissão.
O maior desafio para os EUA na transição energética, por exemplo, é conseguir conectar as redes regionais para integrar as renováveis. Aqui, outra vantagem comparativa é conseguir utilizar os reservatórios das hidrelétricas para equilibrar produção e consumo, assegurando a continuidade do fornecimento de energia.
Diante das metas de descarbonização, o planejamento da expansão deveria voltar a considerar seriamente a fonte hidráulica, não só pelos citados benefícios ao setor elétrico, mas também aos demais usos da água, como irrigação, transporte fluvial, controle de cheias e recreação.
Para isso, será necessário iniciar um diálogo transparente, construtivo e, sobretudo, racional sobre o papel das hidrelétricas no Brasil. Como diz a Ministra Marina Silva: “Não basta dizer o que não pode fazer. É preciso criar o como pode ser feito”.
Fonte: Exame
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