Como o setor de energia está buscando inserir mais mulheres no mercado de trabalho

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Com a tendência mundial de crescimento de empregos nas indústrias de energias renováveis, o setor pode desfrutar de uma maior inserção feminina nos próximos anos. As mudanças estruturais no mercado de trabalho, todavia, caminham a passos lentos. 

Dados da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês) revelam que apenas 32% dos cargos são ocupados por mulheres nesse ramo, que é predominantemente masculino. 

Segundo o relatório divulgado no ano passado, o Brasil responde por 10% da geração global de empregos verdes

O país fica atrás apenas da China, que representa 42% do total. A expectativa é que 43 milhões de novos postos de trabalho sejam gerados até 2050 em todo o mundo. 

O cenário de desenvolvimento traz previsão de maior empregabilidade na área de energia limpa. Resta saber se os investimentos vão transformar a realidade e garantir uma inclusão feminina expressiva nas indústrias. 

Algumas medidas estão sendo tomadas para garantir mais diversidade dentro do setor. É o caso das empresas do segmento solar

Na distribuidora de equipamentos fotovoltaicos WIN Solar, as mulheres representam quase 60% de todo o quadro de colaboradores e 20% delas ocupam cargos de liderança.

A disposição no quadro de funcionários repercute em resultados práticos nos negócios da companhia. 

Somente no último ano, a empresa registrou aumento de 80% no faturamento em relação ao exercício anterior, com 160 megawatts (MW) comercializados em kits solares, um resultado acima da média do mercado fotovoltaico brasileiro. 

“Muito dessa mudança se deu devido ao ingresso cada vez maior de mulheres em diversos setores do mercado, que até então eram dominados por homens. Isso possibilitou novos pontos de vista, ideias e perfis executivos que tanto colaboram para o avanço do nosso setor”, destaca a diretora Camila Nascimento.

Já a fabricante de baterias Unicoba está atrelando suas metas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) à equidade de gênero.  

Dos 670 colaboradores, 52% são mulheres, com 36% dos cargos de gestão ocupados por elas. 

Andrea Terranova, diretora de Controladoria e Finanças, explica que ter mulheres em cargos de gestão mostra que a cultura da empresa é inclusiva, cooperativa e mais diversa. 

“Além disso, diversidade traz inovação pois temos profissionais com vivências e pontos de vista diferentes contribuindo para soluções múltiplas para os problemas”, conta.

De acordo com a Irena, a participação feminina em cargos da indústria solar é de 40%; com cerca de 47% da força de trabalho na fabricação de equipamentos e aproximadamente 39% no fornecimento de serviços. 

O percentual mais baixo, entretanto, é na instalação da infraestrutura fotovoltaica, com 12% de presença feminina. 

Eólica e bioenergia

Na EDF Renewables do Brasil, atuante em projetos de geração de energia eólica, 42% das mulheres fazem parte do quadro de colaboradores, sendo 45% somente da diretoria. A organização tem como meta atingir 40% de mulheres em todos os níveis hierárquicos até 2030.

Recentemente, a AES Brasil anunciou que terá um parque eólico operado 100% por mulheres no Rio Grande do Norte. Em parceria com o Senai, 30 mulheres serão contratadas para fazer a manutenção do Complexo Eólico Cajuína, empreendimento da AES no estado. 

A participação feminina na eólica global, no entanto, ainda é baixa, representando apenas 21% do total de cargos, segundo a Irena.

No setor de bioenergia, uma das maiores processadoras de cana-de-açúcar do Brasil, a BP Bunge Bioenergia aderiu, nesta terça (7/3), ao Movimento Elas Lideram 2030. A ação da Rede Brasil do Pacto Global, em parceria com a ONU Mulheres, visa garantir a igualdade de gênero através da promoção de posições de liderança. 

Com o apoio a iniciativa, a corporação quer elevar para 30%, até 2025, a atuação feminina nas funções de diretoria.

Para dar uma dimensão do desafio: pesquisa da TRIWI, agência especializada em negócios B2B, indica que 5,3% do segmento do agronegócio é representado por pessoas do gênero feminino. Os dados são de fevereiro de 2023.

Transição energética justa

Para Nicole Oliveira, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, o papel da mulher nas tomadas de decisão para fazer frente aos desafios climáticos e energéticos ainda é relegado a um segundo plano.

Ela observa que, apesar de as mulheres se destacarem na produção de conhecimento na temática de emergências climáticas, geralmente, os nomes lembrados para compartilhar informações são de especialistas homens. 

“As mulheres têm um papel importante e podem contribuir tanto quanto os homens, seja na engenharia, no ativismo, em políticas públicas ou no campo jurídico. Essa é a mudança de mentalidade que precisa acontecer”.

Outro ponto é o olhar mais acurado para como as mudanças climáticas e acesso a energia afetam a vida das pessoas e de comunidades inteiras. 

“Quando a gente fala de transição energética, por exemplo, focar apenas na parte técnica, da substituição de um combustível por outro, pode ter significância do ponto de vista de emissões ou de eficiência energética, mas não significa, necessariamente, um cuidado com as comunidades”, completa.

Segundo Nicole, uma das preocupações da Arayara no trabalho com as comunidades onde atua é dar voz às pessoas ao invés de falar por elas, especialmente às mulheres, líderes comunitárias, que estão na linha de frente.

Panorama brasileiro de desigualdades

Apenas 16 empresas brasileiras foram incluídas no Índice de Igualdade de Gênero de 2023 da Bloomberg. Em comparação ao ano passado, somente três iniciativas do país foram adicionadas. 

O ranking considerou as práticas de igualdade de postos de trabalho entre homens e mulheres de 485 companhias presentes em 45 países. 

Apesar dos avanços de oportunidades, as mulheres se deparam com disparidades salariais, mesmo em posições iguais às dos homens. De acordo com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, as trabalhadoras receberam 77,7% da remuneração dos funcionários de sexo masculino. 

Em cargos de chefia, a parte feminina obteve apenas 61,9% do rendimento dos colaboradores.

Em termos gerais, 38% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, segundo a TRIWI. Das 10 mil empresas entrevistadas pela agência, 23% das empresas não contam com mulheres em cargos de liderança e 25% não possuem mulheres negras. 

A baixa participação de mulheres negras evidencia outro grave problema: a falta de iniciativas de inclusão racial – e de gênero – nas organizações. 

Além disso, a maternidade no ambiente corporativo ainda é tabu. O levantamento revelou que 65% das empresas investigadas possuem até 26% mães em seu quadro de funcionários.

Fonte: epbr

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